Clube literário “Cesario Motta” de Capão Bonito do Paranapanema (1.896)

Encontramos no arquivo da Assembléia Legislativa de SP, um ofício timbrado do “CLUB LITERÁRIO DR. CEZARIO MOTTA”, datado de 1896, de Capão Bonito do Paranapanema.

Trata-se do primeiro clube literário e roda de leitura da história da cidade.

Entre as assinaturas que identificamos no ofício, constam nomes como Affonso de Camargo (presidente), João Baptista do Amaral Vasconcellos (vice), Jordão Antonio de Freitas, Eugênio Castanho de Almeida (1º secretário), Camilo José de Alcântara Lellis.

O nome do grupo homenageou o Dr. Cezario Motta (1847-1897) de Porto Feliz/SP. Atuou como médico, político (deputado da província de S.Paulo) e escritor. Participou da fundação da Escola Normal de Itapetininga e da Biblioteca Pública na capital, entre outros.

Ofício timbrado do “CLUB LITERÁRIO DR. CEZARIO MOTTA”, datado de 1896, de Capão Bonito do Paranapanema:
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Cap.10 – O rancor bélico de Getúlio Vargas à Capão Bonito

Charge de Getúlio Vargas (1945) feita pelo do capãobonitense Pedro Lara Dante

Foi na cidade de Capão Bonito, que as tropas militares de Getúlio Vargas tiveram mais dificuldade para avançar rumo a Capital. As tropas se abateram, momentaneamente, pela resistência dos soldados paulistas. Foram desmoralizados!

Aqui a disputa foi palmo a palmo. Foi mais de um mês de peleja.

Os soldados paulistas, além de se aproveitarem de uma trincheira natural, o Rio das Almas, também cavaram organizadas trincheiras em seu entorno.

Os telegramas trocados pelo General Valdomiro Lima e o presidente Getúlio Vargas revelam a dificuldade das tropas federais, que estavam tendo baixa e sendo hostilizados por aviões paulistas.

Na época, a região de Capão Bonito era conhecida como parte do reduto político da família Prestes, de Itapetininga, o que enfurecia ainda mais Getúlio Vargas, o qual era inimigo desta família, inclusive dando um golpe militar após perder a eleição para o itapetiningano, Julio Prestes.

A conquista completa de Capão Bonito significava para Getúlio, mais um triunfo contra a família Prestes, abrindo rápido corredor de avanço para Itapetininga e Capital, para sufocar de vez a Revolução Constitucionalista.

No telegrama abaixo, garimpado por nossa pesquisa, junto ao arquivo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o General Valdomiro Lima envia informações ao gabinete do presidente Getúlio Vargas, sobre a dificuldade em Capão Bonito:

“20/09/1932

(…) Não se podendo esperar grande cousa ação ofensiva (…) Comandante aviação major Ajalma está desolado poder precário nossa aviação. Temos cinco e os rebeldes seis aviões entre estes um New Port identificado ontem quando nos bombardearam por duas vezes, causando mortos, feridos, panico. (…)

Telegrama de Capão Bonito em 20/09/1932 enviado a Getúlio Vargas – Fonte: FGV
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O Milho nas Citações históricas de Capão Bonito

por Rafael Ferreira 01/12/2023

A primeira vez que o milho é citado em algum documento histórico do município de Capão Bonito encontra-se na carta de 24 de junho de 1738, escrita pelo intendente dos quintos reais das minas Paranapanema e Apiaí, senhor João Duarte.

Ele escreveu ao Rei, D. João V, dizendo que a “grande distância existente entre Apiaí e as minas de Paranapanema em que se gastavam 20 dias de ida e volta, e em ocasião de enchente um mês e mais, sendo esta a razão por que se tornara impossível uma expedição. Fazia à ver a miséria em que se encontravam aquelas minas, onde uns não podiam valer aos outros pela muita falta de ouro e alimento e que alguns escravos se estavam alimentando de milho que plantavam, não podendo, por causa da miséria, pagar os quintos reais. Embrenhavam-se nos matos para não serem apanhados e presos, sabendo-se já de antemão que uma busca era escusada, devido à sua grande extensão.”

Sabe-se que João Coelho Duarte, foi nomeado Provedor dos Quintos das Minas de Paranapanema em 1728, pelo próprio governador da Capitania que veio pessoalmente para o arraial de Nossa Senhora do Paranapanema.

Coelho Duarte, era natural de Portugal e há informações nas cartas de que veio das Minas Gerais “com grande escravaria”. Foram quase 10 dez anos de fartura.

Em 1.738, é sabido que as faisqueiras de ouro já estavam exauridas na região de C.Bonito, com declínio comercial deste fugaz empreendimento, que havia levado muitos mineradores a se aventurar pela bacia do Rio Paranapanena.

Imagina-se que os escravizados fugiam dos ranchos mineradores, não sem levar consigo, espigas de milho para sobreviver na mata fechada e plantar tais sementes nas futuras comunidade quilombolas que se constituiriam neste região.

O historiador, Aluísio de Almeida, em seu livro “Vida e Morte do Tropeiro” conta que “na estrada de Paranapanema até Tapitininga (que era bairro) já em 1.746 havia vivandeiros, que tinham vendas para mercadejar com os tropeiros. Alcançava-os a correição anual, que se estendia também aos lavradores que vendiam milho em quartilhos”.

Há também outro documento histórico citando sobre “mantimentos”, inferindo-se daí que havia milho.

Em 1.776, o governador da Capitania de São Paulo, general Martim Lopes Lobo de Saldanha, enviou ofício ao Capitão da Vila de Paranapanema (Freguesia Velha e adjacências) e à Câmara da Vila de Apiaí, ordenando, com urgência, o melhor aproveitamento da picada que ligava as vilas, para o transporte de mantimentos para esta vila de Apiaí.

Consta na carta do governador que os mantimentos abundavam no arraial de Paranapanema. Nesta época, 1.776, além da vila de Freguesia Velha, já deveria existir ranchos no Ouro Fino, Capela do Alto, Ribeirão Grande, Guapiara e a famosa Casa Grande, que era ponto de comércio e chegada de tropeiros com mercadorias para vendas e compras.

O complexo dos Encanados já estava em decadência, mas ainda assim haviam faiscadores recolhendo ouro nos cascalhos dos ribeirões.

No documento histórico “Cabeçalho dos Maços da população de 1.803 na região das Minas do Paranapanema e o recenseamento da família do sr. Dionísio Ferreira Diniz”, consta que havia plantações de milho, feijão, arroz, além de fumo. Há ainda informações de que parte da colheita de algodão e toucinho, da criação de porcos, eram exportados para Iguape.

Do contexto das citações, podemos imaginar muitos acontecimentos coexistentes, como por exemplo, escravizados que buscaram no milho um ato de sobrevivência e resistência nas comunidades quilombolas.

Inferimos também que na região, não só se conservou uma cultura de subsistência alimentar, que se propagou após o insucesso da mineração, mas ainda a emersão de exímios pequenos produtores rurais, que vendiam o excedente da produção do milho para tropeiros, já que ali era um dos entroncamentos do fluxo das rotas que vinham do sul do Brasil para as feiras de muares de Sorocaba, que já se expandia desde 1724.

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Cap. 9 – A mulher que lutou pelo movimento constitucionalista na Revolução 32 em Capão Bonito

MARIA SOLDADO, a mulher afrodescendente que lutou pelo movimento constitucionalista na Revolução 32 em Capão Bonito. Ferida em combate no front de Guapiara, ficou 11 dias em tratamento médico na escola Jacyra, local que tinha virado Hospital.

“A minha cozinheira era a famosa Maria Soldado. Maria Soldado é uma das figuras mais bonitas da Revolução de 32. Era uma negra, que estava cozinhando para minha tia Nicota Pinto Alves. Um dia Maria Soldado desapareceu. Ninguém sabia dela. E eis que ela retorna, vestida de soldado, com uns 20 ou 30 companheiros, índios e negros, e disse: “Nós vamos ingressar na Legião Negra” (entrevista na Gazeta, São Paulo, 05.09.1932, de Antônio Penteado Mendonça).

Segundo De Paula, havia quatro mulheres negras entre os soldados das duas companhias de fuzileiros da Legião Negra que integravam o destacamento formado para guarnecer a Estrada de Capão Bonito-Buri, na frente Sul (De Paula, 1932: imagens construindo a história, p. 155).

“Maria Soldado (Maria José Bezerra) é um dos nomes mais conhecidos entre as mulheres que participaram da revolução de 32. Inicialmente alistada como enfermeira voluntária, conseguiu ela o seu intento ao desembarcar em Capão Bonito onde participou dos principais combates do setor sul, entre eles o de Buri” (do livro Cruzes Paulistas).

Com seus 37 anos combateu a Ditadura de Vargas na Legião Negra. Foi ferida em combate no dia 17 de agosto de 1932 na cidade de Guapiara, retornando aso combates no dia 28 do mesmo mês. Com o fim da Revolução voltou a sua rotina habitual (informações da Sociedade dos Veteranos de 32).

Maria ficou quase 11 dias em recuperação na escola Jacyra, onde virou Hospital de Sangue do movimento constitucionalista.

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Cap. 8 – Um diário não mente

O diário de campanha do soldado Cilineu Braga Magalhães foi todo escrito em solo capãobonitense. Por tal motivo, transcreveremos aqui, algumas passagens interessantes a respeito da movimentação das tropas e a percepção deste soldado sobre o clima social na cidade.

A imagem acima é do seu diário que foi encontrado próximo a uma trincheira do Rio das Almas, após ser assassinado, quando já estava feito prisioneiro.

Sabemos que, ao desembarcar em Capão Bonito, Cilineu ficou alojado no Grupo Escolar por alguns dias, até ser enviado para o front de Guapiara, retornando à cidade e posteriormente para as trincheiras do Rio das Almas.

Segue alguns trechos selecionados, com grifos nossos:

22 de julho de 1932: “Temos forças em Ribeira e Ourinhos para fechar a retaguarda dos paranaenses; em Avaré, Apiaí, Capão Bonito, para atacar pelos flancos e em Itapetininga para a vanguarda”

26 de Julho: “(…)Pela manhã ainda tivemos no campo de futebol, exercícios de ordem unida, apresentar armas, como nos preparássemos para uma parada. (…) Às 3 horas ouve-se um energético toque de reunir. Fervem boatos. Estávamos sendo atacados em Buri, iríamos seguir imediatamente com outros.
A verdade entretendo era a seguinte. Uma Companhia teria de guarnecer as trincheiras que defendem a cidade.

(…) Aqui chegou hoje um Capitão da Brigada Paranaense que aderiu ao movimento constitucionalista.


Ao entrar em um quintal, encontrei limas docíssimas. Lembrei-me de mamãe. Rancho péssimo, carne, carne cozida, feijão cru, umas papas de quirera.

28 de julho: “(…) A má água e as laranjas já passadas têm produzido desarranjos intestinais a vários colegas. Uma patrulha composta de Renato, Epaminondas, Aurélio e eu fomos encarregados de guardar a estrada de Apiaí. O sítio é mais os menos agradável, preferível ao pátio do grupo onde dormimos ontem. A nossa guarda vai das 6 a meia noite, mas deliberamos passar a noite tôda aí. A estrada é movimentada, cavaleiros, caminhões, peões, passam a cada instante. Tem-se que pedir salvo conduto; é bem aborrecido. Epaminondas foi levar à cadeia um caminhão que não tinha ordem de passar.
Perto da meia noite começou a chover. Refugiamo-nos numa casinha abandonada. Aí nos preparamos para dormir. Encontramos uma lamparina e vela. Não estamos mal acomodados, mas longe de estar descangados.

A casa está abandonada, entretanto foi visto na vizinhança um individuo excessivamente magro, assustador, cuja tosse cavernosa ouve-se a cada instante. vizinhança muitos leprosos.

2 de Agosto: Logo depois das 9 horas, recebemos ordens de nos prepararmos para guarnecer as trincheiras em torno da cidade. Eu e Renato havíamos feito guarda ao hospital de sangue, durante toda noite.

(…)Qual não foi a minha satisfação em encontrar, na volta, no alojamento, adivinhem quem? Papai. Havia vindo de São Paulo, na véspera, dormira em Itapetininga e finalmente aqui estava. Veio com o senhor J. Pires, Erasmo Toledo, Juvenal Piza e Theodoro
Piza.


(…) Há um movimento de tropas, de caminhões etc. Acaba de chegar a luzida cavalaria de Rio Pardo.

Às 2 horas Papai almoçou no hotel e eu aproveitei para um 2.º almoço. Cerca de 5 horas papai na companhia dos demais seguiu para São Paulo, dando-me antes um lindo distintivo da revolução Paulista. Levou grande número de cartas de meus colegas, muitas lembranças e muitas saudades.

Às 10 horas recebemos ordem de nos alojar. Partiríamos às 4 horas da manhã seguinte para Guapiara”

3 de Agosto de 1932: A viagem ia correndo bem apesar da estrada estar bastante molhada, quando a uns 20 quilômetros de Guapiara começou a esfriar e a cair uma chuva fria, pesada, desagradável. (…)

 Chegamos a Guapiara, todas as casas estão cheias de soldados, enquanto cai interruptamente a chuva. A vila tem péssimos e pouquíssimos prédios. Ficamos em casa do prefeito enquanto não recebíamos ordem para ir para a linha de frente. Aqui encontramos o que foi de grande alegria para nós, o senhor
Isaac. O senhor Isaac com sua grande bondade, arranjou-nos a “boia” dos oficiais, pois a nossa sairia muito tarde. Novamente ouço, depois de tantos dias, o roncar do canhão.

(…) Mais tarde a chuva cessou e pude
observar o lugar em que nos achamos. Plena serra de Paranapiacaba.


A própria cidade acha-se localizada em um morro. De todos os lados picos abruptos cobertos de nevoeiro cujas encostas cobertas de verde vegetação rasteira, assemelham-se aos bem tratados tabuleiros dos jardins da capital.

Os tortuosos caminhos, as toscas pontes, as caprichosas, isoladas copas de redondas árvores, plantadas pela natureza, quase simetricamente, lembram os campos de “golf”, com os quais os nossos amigos ingleses e americanos gastam
tanto dinheiro.

As casinhas penduradas nos alcantis, cercadas de laranjais carregados de frutos, o gado pastando, os alegres regatos que correm sobre pedras em vales profundos, as cascatinhas, dão à vista a impressão de um lindo presépio de natal.

O ar que se respira é leve, entretanto o sol aparece por poucos instantes; logo depois a chuva volta a nos aborrecer.

07 de agosto: Cilineu estava em Guapiara neste dia: Constava mesmo que iriamos retirar visto estarem escassas as nossas
munições e estarmos com as comunicações cortadas com Capão Bonito. Mais tarde  conseguiu-se comunicar com Capão Bonito: nada de anormal por lá.

(…) 9 de Agosto de 1932 – O dia correu magnificamente. Renato e eu tomamos um banho no rio; a água estava friíssima.

10 de agosto: Ao chegarmos ao alto do morro, surpreendeu-me a vista, o mais belo vale que eu já vi a relva de um verde alegre cobrindo montes, pinheiros, cambuís, formando caprichosos recantos; um lindo ribeirão corria pelo fundo, passando ao lado de casinhas abandonadas.

Este morro é muito bonito para se ver, mas para subir é horrível; paramos em baixo de uma árvore, extenuados; meio dia, continuamos, a 1 hora chegamos a Monjolada, umas cinco casas, capelinha, vários monjolos. (…)

11 de agosto de 1932: As 10:30 chegou ordem de retirada. Íamos o mais depressa possível para Apiaí-Mirim, sem passar por Guapiara, que era ponto perigoso.

Chegamos finalmente à Apiaí-Mirim as 7 e 15. Dormimos em uma péssima casa. Faz um frio horrível, estamos com pouco agasalho, cansado como estou, quase não consegui dormir.

13 de Agosto de 1932 – Às 5 horas da tarde ordem de seguir para Capão Bonito.

Não pude apreciar direito a paisagem apesar da lua, porque vinhamos
cantando; deu para ver muita serra, muitos vales, florestas cerradas. Em Capão Bonito, encontramos todos os demais rapazes do Pelotão, inclusive Fernando, Lyra,etc.

11 de setembro de 1932: “Finalmente a partida às 9 horas da noite de ontem em caminhões. Viajamos a noite e apesar das péssimas acomodações, conseguimos dormir um pouco. Passamos por Gramadinho e pela manhã chegamos a uma Capela
das almas e seguimos viagem até uma serraria.”

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Cap. 7 – O espião que enviava informações para Capão Bonito

Combatentes paulistas no momento da chegada do Correio Militar, na região do Rio das Almas, durante a Revolução Constitucionalista de 1932 (Arquivo de Comunidade Guardiões de 32, foto garimpada por Antonio Ozi Galvão)

Um espião paulista (farmacêutico), que estava em Buri, enviava informações para os soldados que estavam em Capão Bonito.

Durante a Revolução de 32, enquanto os soldados paulistas ocupavam Capão Bonito, havia uma linha telefônica que ligava para Buri, na qual os soldados conversavam com um espião que repassava informações das posições inimigas.

É o que se extrai do livro “Carne para Canhão” de Clovis Gonçalves:

“Mais uma miséria da guerra civil. Um farmacêutico, em Buri, fiel aos coestaduanos, deixou-se ficar na vila para mandar-lhes informações nossas. Dispunha de uma ligação telefônica secreta que permitia comunicações com Capão Bonito e Itapetininga.

Tudo foi descoberto hoje. Um oficial conseguiu introduzir uma ligação na linha e surpreendeu o seguinte dialogo: – ―Há novidades?‖ (De CAPÃO BONITO) – ―Três

composições com tropa‖. Não havia mais dúvida, o farmacêutico nos estava espionando. Alguns explicaram, assim, a coincidência de horas entre o voo de um avião nosso na véspera e de três aviões inimigos.

A punição do farmacêutico não se fez esperar. Saquearam-lhe a casa de negócio. Não ficou uma prateleira em pé. As ambulâncias de alguns corpos se encheram de medicamentos. Por fim, já noite, atearam fogo ao montão de destroços. A guerra civil fizera surgir soldados com alma de Nero no Brasil.” (Carne para canhão, pág. 81).”

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Cap. 6 – O Hospital Cirúrgico da Revolução – atual Escola Jacyra

O prédio da atual “Escola Jacyra”, também serviu para uma Unidade Cirúrgica, atendendo mais de dois mil soldados feridos e doentes. Era chamado de “Unidade Médica Italiana”, tendo como Diretor, o Professor Benecdito Montenegro, referência no Brasil na especialidade cirúrgica e tendo participado da Primeira Guerra Mundial na Missão Médica Militar Brasileira.

No livro escrito pelo médico Montenegro, “Cruzes Paulistas”, há o seu depoimento sobre a formação dessa unidade médica de guerra, em Capão Bonito:

“Sabedor da organização de batalhões integrados por estudantes

das nossa escolas superiores e de seus diplomados, senti-me na obrigação de constituir uma unidade médica, nos moldes das que funcionaram na 1ª Grande Guerra, que pudesse em caso de necessidade prestar socorros, aos feridos pelos tiros inimigos, aos acidentados e aos que contraíssem as doenças oriundas da impossibilidade de se estabelecerem condições higiênicas adequadas, durante as operações de guerra.

Com a eficiente colaboração da colônia Italiana da Capital, chefiada pela Exma. Srª condessa Marina Crespi, cuja casa se transformou em verdadeira colmeia de trabalho executado pelas senhoras e senhoritas italianas ou de origem italiana e com a competente direção técnica do prof. Luigi Manginelli, organizou-se uma unidade cirúrgica de guerra, denominada de Unidade Cirúrgica Itália, composta de sete caminhões transformados em ambulâncias e do material necessário para a instalação de um hospital de frente de batalha com capacidade para sessenta leitos.

Essa unidade instalou-se no Grupo Escolar de Capão Bonito, convenientemente adaptado para servir de hospital de sangue, por indicação do comandante do Exército Constitucionalista do Setor Sul, coronel Brazílio Taborda.

Assim foi determinado porque esse setor estava desprovido de qualquer elemento médico que pudesse servir de socorro aos combatentes. Testemunharam tais fatos os componentes dos vários batalhões que operavam no setor Sul e em particular os do Batalhão 14 de Julho, assim denominado porque fora formado precisamente nessa data, mas cujo nome inicial era Batalhão Universitário Paulista por ser constituído, na sua maioria de alunos das nossas escolas superiores ou de seus diplomados.

Pelo hospital de Capão Bonito, que funcionou durante os três meses da Revolução, passaram cerca de dois mil combatentes entre feridos, doentes e acidentados.”

No diário de campanha, do soldado Cilineu, encontramos a data de quando o prédio se transformou em unidade médica:

“31 de julho: Hoje morreu um bravo soldado da cavalaria Paulista, ferido ontem em Apiaí.

Suas últimas palavras foram “Seu major, vou morrer, mais o capote do Gaúcho veio. Esta campanha está o suco”.

Hoje graças ao senhor Valle comemos peru ao jantar! Mudamos de alojamento. Passamos à 2.ª Companhia para o prédio do Capão Bonito Clube e estamos bem. O grupo será transformado em hospital de sangue”.

No livro “Botucatuenses no Setor Sul”, de Sebastião A. Pinto, ele descreve que Capão Bonito virou “praça de guerra” e cita que no Grupo Escolar funcionava o hospital:

“5 de agosto de 1932: Pela tardinha, ordem de partida. Para Capão Bonito do Paranapanema. O comboio, de caminhões, vagarosamente, viajou a noite. Sem incidentes. Pela madrugada entramos na pacata cidadezinha. Transformada em praça de guerra, fervia de soldados. Mulheres, nem para amostra. E a zona de guerra ainda estava distante.

No grupo escolar de Capão Bonito funcionava o hospital de sangue. Uma equipe de médicos e acadêmicos, chefiada pelo Prof. Montenegro, cuidava dos feridos que vinham de Ribeira, Guapiara, Apiaí e outros lugares, onde a luta era intensa e áspera”.

Foi neste centro hospitalar que o major Arlindo foi se tratar, quando foi ferido na batalha em Buri, conforme narrativa descrita na página “Guardiões de 32” encontrada no facebook: “Após o ataque à Estação de Rondinha, ocorrido em 26 de agosto de 1932, o major Arlindo de Oliveira teve de passar o comando, pois na ação sofrera um ferimento na mão esquerda, atingida por um estilhaço de granada. De automóvel, seguiu para Capão bonito, a procura do médico Benedito Montenegro. No caminho, passou pelo posto de comando do tenente-coronel José Anchieta Torres, comunicando-lhe que seguia para Capão Bonito, para tratar-se. Mas foi ali informado de que um grupo do Batalhão 14 de julho comandado pelo capitão Cândido Bravo estava cercado nas margens do rio Apiaí-Guaçu, sem esperança de romper o cerco.”

A ambulância da Unidade Médica de C. Bonito em 32

Neste boletim do batalhão constitucionalista que estava em Guapiara, citado no livro “A Epopéia”, é possível saber que havia uma ambulância com medicamentos que havia saído da Unidade Médica de Capão Bonito e o nome dos responsáveis:

“Acantonamento em Guapiara, 3 de Agosto de 1932. Sr. Comandante do Batalhão. No transporte da ambulância do Corpo de Saúde do Batalhão, de Capão Bonito para esta localidade, o caminhão sofreu uma derrapagem, caiu em um buraco de 10 metros e perdeu todos os medicamentos e o material devido à chuva. Eram passageiros do caminhão guiado pelo Dr. Marcelo Soares, os Srs. Durval Carvalho, Orlando Tiani, Eduardo Mesquita Sampaio e Ismael Caiuby.  Nesse acidente ficaram feridos, com gravidade, os Srs. Eduardo Mesquita Sampaio e Ismael Caiuby, que foram enviados para o Hospital de Pronto Socorro do Dr. Benedicto Montenegro, em Capão Bonito, e o Dr. Marcelo Soares que veio a esta localidade. Os demais todos com ferimentos leves. M. Soares.”

No “Hospital de Sangue” veio a falecer o Tenente José Maria Azevedo, que havia sido baleado entre o bairro Apiaí Mirim e Fundão. No livro “Epopéia”, o autor se refere ao hospital como “Hospital da Unidade Médica italiana”:

“Chega um reforço acompanhado do Major Heliodoro e sob o comando do Tenente José Maria de Azevedo. À aproximação do inimigo, forte fuzilaria se estabelece. José Maria cai mortalmente ferido. (faleceu no mesmo dia, à noite, no Hospital da Unidade Médica italiana, em Capão Bonito)”.

As enfermeiras que atuaram em Capão Bonito

No artigo “Participação da Escola de Enfermagem Anna Nery nos postos de assistência aos feridos da Revolução Constitucionalista de 1932”, publicado na Revista Brasileira de Enfermagem de out/2003, de autoria de Antonio José de Almeida Filho e Tânia Cristina Franco Santos, descobrimos a atuação de algumas enfermeiras em Capão Bonito, justamente na unidade cirúrgica:

“Com o fim do conflito, estava concluída a participação das enfermeiras e alunas da EAN, na organização dos postos de atendimento aos feridos e no cuidado destes. Assim, começaram então, a retornarem a partir de 8 de outubro de 1932, às 21 horas, na estação Pedro 11, da Estação Ferroviária Central do Brasil, procedente do setor sul, as enfermeiras Zélia Constantina de Carvalho e Nisia Grosmann.

“A bordo do “vapor Annibal Benevolo” retornam ao Rio de Janeiro, às 21 horas do dia 21 de outubro, as enfermeiras internas Marinha do Carmo Braga e Leopoldina Franco de Almeida, desembarcando nas Docas do Loyd, procedentes de Capão Bonito, do setor Sul, cujas atuações se deram junto às ambulâncias cirúrgicas. Apenas no dia 21 de outubro, às 21 horas é que retornam ao Rio de Janeiro, pelo “vapor Annibal Benevolo”, juntamente com as enfermeiras que atuaram no setor Sul, as quatro alunas da EAN: Adalgisa Nelli Ayres, Saphira Gomes Pereira, Maria do Carmo Andrade e Mirabel Muniz Smith. Portanto é possível concluir que as alunas desempenharam os cuidados de enfermagem sob a supervisão de enfermeiras que estavam lotadas nesse mesmo posto, retomando juntamente com esse grupo.

Esta atuação permitiu a capitalização de lucros simbólicos em favor da enfermagem e da EAN. O reconhecimento social e prestígio conferido às enfermeiras pela participação no conflito é ressaltado por Rachei no relato que se segue:

Todas estas enfermeiras acham-se possuídas de grande satisfação íntima por terem bem servido ao ideal da profissão, conseguindo elevá-Ia ao mais alto grau de proficiência e moralidade, conforme consta dos atestados honrosos dados pelas altas autoridades daqueles corpos do exército onde esse conceito é unanimemente reconhecido e proclamado em ordem do dia. A diretora da EAN reconheceu a abnegação das alunas e enfermeiras ao registrar em seu relatório que estas chegavam a trabalhar até 12 horas por dia(5), obtendo por esses atributos o reconhecimento por parte do coronel chefe do corpo de saúde, Or. Marinho, mediante o envio de um fotografia (foto no. 2) à Rachel Lobo, onde apresentava no seu verso um texto formal de deferência e reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pelo grupo de enfermeiras, exaltando a participação destas “pelo bem que trouxeram ao S. S. F. O.” (Serviço de Saúde da Frente de Operações).

Mais relatos sobre o Hospital de Guerra em Capão Bonito

No livro “A Epopéia” do soldado Aureo de Almeida, há mais uma referência ao hospital e de que Capão Bonito está a salvo:

“Quantos são os soldados que baixam ao hospital de Capão Bonito, reumáticos, febris? Uma Companhia quer descansar, trocar roupas em Capão ou Itapetininga. Descansar todos querem, todos precisam, mas o comandante Heliodoro pondera que o 14 é indispensável no momento; que o próprio Coronel Taborda cuidará de atender aos desejos do Batalhão, aliás, razoáveis, dentro de breves dias. Há muita tropa seguindo para Capão Bonito, para Itapetininga. Corre com insistência que o inimigo vai bombardear aquela cidade. Onde teriam encontrado a notícia? Até à noitinha, nada de aviões, e o inimigo felizmente não dispõe de canhões de grande alcance. Estas salva, Capão!”

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Cap. 5 – Grupo Escolar: Alojamento dos soldados e Hospital Cirúrgico

A foto acima é do Grupo Escolar, popularmente conhecida por “Escola Jacyra”. O prédio foi construído em 1.910, na gestão do prefeito Estevan Dante.

A foto foi feita em 1.927, pela Comissão Geológica e Geográfica do estado de São Paulo, cinco anos antes da eclosão da Revolução de 32.

O prédio serviu de hospedagem para os soldados do movimento constitucionalista.

Na data de 25 de julho de 1.932, encontramos no Diário de Campanha do voluntário Cilineu Braga Magalhães, do Batalhão 14 de Julho, o relato de que chegou em Capão Bonito, hospedando-se no Grupo Escolar:

“Campos, colinas, vales, alagadiços, matos, novamente pinheiros, eis a paisagem.

De vez em quando uma roça de milho, raras casas, grupos de gado magro, nenhum pé de café. Frio, tristeza, ar de abandono. Cerca do meio dia chegamos a Capão Bonito. Ai das tropas que se aproximavam.

A vila tem suas comodidades como sejam: luz, água encanada, bonita igreja e um bom prédio do grupo escolar, onde fomos alojados. Apesar de estarmos alertas, com os fuzis embalados, o ambiente é de tanta calma, tanta paz que até descansa a gente.

Há aqui perto do alojamento um quintal cheio de laranjeiras, que tem nos alimentado.

Em seus dias em Capão Bonito, Cilineu retorna a se hospedar no grupo e cita a chegada de uma família na cidade que trouxe meias e chocolates.

29 de julho de 1932: Chegou uma família de São Paulo; trouxe-nos meias e chocolate.

Levou uma carta a papai. Parece-me que papai anda muito apreensivo; todos que têm estado com ele, dão a entender isso.

Fomos novamente alojados em uma das salas do grupo escolar. Só chuva.”

No dia seguinte, 30 de julho, Cilineu relata em seu diário que:

Estão escrevendo em letras brancas colossais “Capão Bonito” no telhado do
grupo. Os nossos companheiros fazem trincheiras em torno da cidade.
As forças dos Batalhões 9 de Julho e 4.º da Polícia passaram por aqui, rumo
a Guapiara. Nota-se um lufa-lufa.”

No livro “A Epopéia” de Aureo de Almeida Camargo, fala-se dos soldados que dormiam empilhados no porão da escola e da família do preto Domingos que passou a lavar e cozinhar para os soldados:

“No grupo escolar, a manhã vem encontrar o Batalhão instalado como sardinha em lata, parte no porão, andando de rastro, parte nas salas do único andar. Todos mal instalados, é a lei da guerra.” (…) “O novo quartel é um bom prédio, talvez o melhor da cidade, porém mal conservado (*nota do livro: sofreria uma limpeza parcial mais tarde, quando da instalação do Hospital da Unidade Médica Italiana). No pátio, uma cisterna. Dez metros contados da frente do prédio, uma série de dez banheiros. Uma cerca tosca de arame limita a área do grupo. Atrás deste, a casa do preto Domingos, cuja família seria a lavadeira particular da tropa, bem assim a cozinheira das galinhas conseguidas sabem os soldados de que maneira”

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Cap. 4 – Ocupações Militares no Ferreira das Almas

Igreja do Bairro Ferreira das Almas, edificada em 1.874

O Bairro Ferreira das Almas é citado em vários pontos dos acontecimentos da Revolução. Geralmente o bairro é referido pelos soldados constitucionalistas como “Capela dos Ferreiras”.

Na sangrenta batalha do Cerrado, ocorrido as margens do Rio das Almas, no mês de setembro de 1.932, o bairro passou a ser a retaguarda da tropa constitucionalista.

No mês de agosto de 1.932, quando Capão Bonito ainda não tinha caído nas mãos das tropas ditatoriais, o bairro Ferreira das Almas estava em sossego e com alguns moradores incomodados com a chegada de alguns soldados constitucionalistas, como vemos no relato de Sebastião Pinto, em “Botucatuenses no Setor Sul”, de 13 de agosto de 1.932:

“(…) Num lugarejo chamado Capela dos Ferreiros – uma dúzia de casas – foi destacado um grupo de combate para guarnece-lo. Fiquei com o grupo. O resto do pessoal retornou a Capão Bonito. Na Capela dos Ferreiros permanecemos treis dias. Inativos. Numa pasmaceira enervante. Vigiando os caminhos e observando a gente que passava. Nada de anormal. A noite, nos casebres abandonados, (os moradores tinham pirado à nossa aproximação), curtíamos frio, enrolados nos cobertores ralos, enquanto as sentinelas prescrutavam os horizontes. Nada de anormal, felizmente.”

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Cap. 3 – Ocupações Militares em Ribeirão Grande

Centro de Ribeirão Grande, atual Praça Bom Jesus, anos 40.
(Acervo – Instituto Geográfico e Cartográfico – IGC – Doação Sr. Jose de Almeida)

Antes da retirada de Capão Bonito para o Rio das Almas, os paulistas enviaram soldados para ocupar e fazer reconhecimentos em Ribeirão Grande, a fim de concluir o plano de traçar uma linha defensiva entre Capão, Guapiara e Ribeirão.

No livro, “Palmo a Palmo”, de Alves Bastos, há uma citação de soldados em Ribeirão Grande, ocorrida em 20 de agosto de 1932:

(…) o recém-chegado batalhão Fernão Sales, mais uma dessas unidades que o civismo paulista fazia chegar de vez em quando às frentes de combate. Na jornada de 20 de agosto, a presença desse destacamento minúsculo ocupando Ribeirão Grande (alguns quilômetros ao sul de Capão Bonito) e lançando seus reconhecimentos para sudoéste, nos tranquilisa em relação ao flanco sul e crêa ao mesmo tempo para o inimigo, uma permanente ameaça na direção de Guapiara. Agora, até pelo extremo flanco sul estamos garantidos nessa parte de nossa imensa frente defensiva.”

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